sábado, 25 de agosto de 2012

Alabama Shakes, literalmente.



Já faz um tempo que não escrevo aqui. É que só escrevo quando realmente tenho vontade, não por necessidade ou por compromisso. Escrever livremente, aliás, é minha primeira regra para jogar palavras neste blog. Mostrar o que sinto tem mais a ver com paixão.

Até aqui você deve estar se perguntado por que essa introdução. Aonde ele quer chegar afinal? Bom, é que a banda Alabama Shakes usa, assim como eu, a paixão como o combustível para construir algo.

O CD Boys N’ Girls, apenas o primeiro de muitos que ainda virão – espero –, é uma pérola no mundo chato da música mundial. Com uma mistura de baladas e pegadas de rock muito bem balanceados, arranjos que se encaixam perfeitamente e uma voz única, Alabama Shakes vem se mostrando uma grande promessa, uma espécie de prova de que ainda existe muita coisa boa por aí, até mesmo no Alabama.

Logo na primeira faixa do CD, Hold On, o ouvinte é arrebatado pela força de um riff pegajoso e uma voz tão forte e cheia de identidade que pouco se tem a escrever sobre isso, todos os méritos para Brittany Howard. Hold On é como um cartão de visita, como se dissesse “o que você irá ouvir a partir daqui não tem nada a ver com o que você está acostumado a colocar para tocar no seu iPod”. E mais, a energia dessa música é muito boa e contagiante. Vale cada segundo de execução.

Ok, dadas as devidas boas-vindas, o CD segue com faixas arrebatadoras, capazes de fisgar até mesmo os ouvidos mais exigentes. Destaque para Boys N’ Girls, Be Mine e You Ain’t Alone, mesmo sabendo que destacar três músicas desse CD é no mínimo uma injustiça.

O conjunto da obra faz com que Boys N’ Girls (CD) seja um dos melhores lançamentos desse ano. Fica mais do que a dica, então. Fica a esperança de que mais bandas como o Alabama Shakes apareçam e nos tirem da inércia em que estamos mergulhados nos últimos tempos.

Ouça Hold On aqui.


terça-feira, 2 de agosto de 2011

Amy e Adele (Arte e Desastre)

Primeiro de tudo é preciso dizer que esse texto não foi motivado pela morte de Amy Winehouse. Até porque, antes mesmo de declarada sua morte, eu já tinha sido arrebatado pela voz de Adele. E o que Adele tem a ver com Amy? Inicialmente, nada, finalmente, tudo.

Os mais afoitos aqui se apressarão em dizer que todas as duas são cantoras fantásticas; e isso é fato, não temos como negar. Mas se olharmos um pouco mais, veremos que Adele e Amy são duas vítimas do amor. Então, coloque de lado seu coração platônico e vamos falar francamente sobre o impacto do amor na arte dessas duas artistas.

Amy não morreu pelas drogas. Isso, na verdade, foi consequência de algo bem maior. Influenciada pelo namorado – usuário de drogas pesadas – a cantora é vítima de uma relação conturbada e cheia de armadilhas sentimentais.

A arte, como todos sabem, é uma espécie de catalisador de emoções. Uma forma de o artista colocar seus sentimentos em dia com o bate-bate do coração. Afinal, o que seria da música se os sentimentos não fluíssem à medida que as notas musicais flutuam pelo ar? Teríamos uma interpretação vocal estéril, que passaria despercebida aos nossos ouvidos, nunca chegando aos nossos corações. E isso foi tudo o que Amy não fez. Com interpretações que beiram um pedido de ajuda, Winehouse cantou com perfeição o medo, a insegurança e o vício.

Até aqui você já deve estar se perguntando o que Adele tem a ver com tudo isso. Ok, vamos então às músicas dessa outra cantora. Assim como Amy, seus hits são frutos de duas desilusões amorosas, onde cada uma delas resultou em um CD.

O que quero colocar aqui é que tanto Amy quanto Adele interpretam magnificamente as dores e as desilusões que só o amor é capaz de criar. Neste ponto, podemos concluir que a força motriz da arte sempre foi e sempre será o amor, assim como suas complicações e desencontros. Em outras palavras, o sofrimento de amar alguém com toda a nossa força e pequenez é o que faz da arte algo que nos impacta ao longo da história humana.

O que temos no final de tudo é que Amy e Adele usam a música como forma de exorcizar as decepções amorosas. Enquanto Adele manteve sua imagem de boa moça (até agora, pelo menos), Winehouse se entregou a uma vida desregrada cujo final já sabemos.

Arte e desastre sempre andaram de mãos dadas e assim produziram obras inesquecíveis. Seja isso bom ou ruim, o mundo fica menos frio e agradece.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Exorcizando Demônios

“Que confusão é essa?” – pergunta um dos Caixas do cinema para o colega ao lado, que responde com certo desprezo: “é um filme do baterista do Nirvana”. Naquele momento tive a ideia do tamanho do desafio de Dave Grohl, agora guitarrista e vocalista do Foo Fighters. “Não deve ser nada fácil livrar-se de ter sido ‘o baterista do Nirvana’”, falo comigo mesmo.

Mal sabia eu que era exatamente essa a questão abordada em “Back and Forth”, documentário do Foo Fighters (e não do Nirvana) que lotou cinemas das principais capitais brasileiras. Para mim, seria mais um daqueles filmes cheios de excessos e loucuras de uma banda de rock n’ roll, regados por brigas, intrigas e estrelismo. Mas não! Eis que “Back and Forth” fala das aventuras e desventuras de um grande baterista, antes renegado ao segundo plano, e hoje uma das figuras mais cativantes e talentosas do mundo da música.

Durante mais de duas horas de filme, Grohl vai aos poucos exorcizando seus demônios e se libertando de um passado em que Kurt Cobain era uma estrela solitária e muitas vezes superestimada.

Com hits alucinantes como “All My Life” e “Best Of You”, hoje o Foo Fighters toma vida própria e se coloca como uma das melhores bandas da atualidade. Em “Wasting Light”, seu trabalho mais recente, fica claro que a banda amadureceu e está mais afiada do que nunca.

Quando acaba o documentário, estou convencido de que Dave Grohl não precisa provar mais nada para ninguém. É quando vem a segunda parte da noite: um pocket show da banda em 3D. Nele, somente músicas de “Wasting Light”, com destaque para a vigorosa “White Limo” e a belíssima “I Shoud Have Known”, que nada mais é que um desabafo sincero de tudo o que assombrou Grohl durante todos esses anos: o suicídio de Kurt Cobain, a “ousadia” de formar uma nova banda e todos os obstáculos rumo ao sucesso, agora sim no papel de protagonista.

No final de tudo isso, a certeza de que são pessoas como Dave Grohl que fazem questão de não deixar o rock morrer, passando por cima de tudo e de todos. E por falar nisso, voltando aos Caixas do cinema que falei no começo, eles podem até continuar sem saber quem é realmente Dave Grohl, isso na verdade pouco importa. Até porque naquela noite foi apresentada mais uma prova de que a imortalidade faz parte do caminho de guitarras distorcidas e grooves insanos de bateria.

Vida longa então ao Foo Fighters! E, principalmente, vida longa ao bom, velho e – por que não dizer? – imortal rock n’ roll.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Rock Sem Frescura


Solos de guitarra virtuosos, arranjos orquestrais, overdubs e sintetizadores. Isso tudo é o que você não encontra na primeira demo da banda The Starlets. Usando as palavras de JB, baixista da banda, estamos falando de um “rock puro, sem frescura”. O resultado é um trabalho honesto e direto, que deixa de lado o bla-bla-bla e coloca logo de cara toda a energia que só o bom e velho rock n’ roll tem. Prova disso está na primeira faixa, One Stand. Dona de um riff de guitarra pegajoso, o vocal descompromissado se encaixa muito bem à atmosfera da música. Ponto para os caras da banda, que nos faz querer mais. E assim, chegamos então à próxima faixa. Shattered Glass tem um som bem ao estilo do melhor do Rolling Stones, uma das influências da banda. A partir daí, não tem mais saída, o jeito é curtir a última faixa, chamada Make Me Feel Alrigth. Com uma batida vigorosa e marcante, a música não decepciona e dá a (boa) idéia de que a sua gravação aconteceu num take só, algo, aliás, raro em tempos de Pro Tools. Conclusão: a The Starlets, em apenas três músicas, deixa claro todo o seu potencial e mostra que ainda tem muito para mostrar no cenário musical nordestino, pobre – convenhamos – quando o assunto é rock de qualidade e presença. Em poucas palavras, a proposta da The Starlets é fazer um som simples, mas muito longe do que se diz simplório, sem valor.

The Starlets
http://www.myspace.com/bandastarlets

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Nem Mais, Nem Menos: Slash

Sim, já faz algum tempo desde que um guitarrista tímido, escondido em seus cabelos encaracolados e uma cartola, fez uma verdadeira revolução musical junto aos seus amigos baderneiros do Guns N’ Roses. Depois de deixar a banda, lançar diversos CDs e ainda contribuir com artistas do porte de Michael Jackson; Saul Hudson, mais conhecido como Slash, finalmente deu a cara a tapa em seu primeiro trabalho solo. Não é de se espantar que esse trabalho seja chamado apenas pelo nome do próprio guitarrista. Afinal, estamos falando de um CD que não vai além de tudo que fez de Slash um ícone do rock: riffs potentes, solos viscerais e distorção “na medida”. O resultado é um CD bom, que conta com vocalistas de peso, como Iggy Pop e Ozzy Osbourne. No entanto, a surpresa fica mesmo por parte da vocalista do Black Eyed Peas, Fergie. Ao contrário do que muitos possam achar, a moça não deixa desejar quando o assunto é rock n’ roll. E que achem ruim os headbangers de plantão! Destaque também para a faixa By the Sword, em que Andrew Stockdale (Wolfmother) canta de uma forma zeppeliana sem igual. Isso sem falar do solo marcante de guitarra, o melhor entre todos do CD. Vale falar ainda da balada Gotten, que é tão pegajosa que faz você cantarolar fácil a melodia por aí, dessa vez reforçada pela voz de Adam Levine, do Marron 5. De resto, temos a faixa olha-como-eu-toco-pra-caralho, que não por acaso se chama Watch This. Nela, temos a participação de Dave Grohl (Foo Fighters) na bateria, além de Duff, baixista e velho amigo de estrada do guitarrista. Trocando em miúdos, Slash lançou um CD que não desaponta, mas também não surpreende. Até porque, em matéria de agir fora do combinado, bem, isso fica por parte de Axl Rose. Mas aí já é outra história.

Slash
Slash (2010)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Blues com Sotaque Carioca

Uma das melhores coisas para qualquer apaixonado por música é encontrar um CD que estava escondido entre tantos outros e se lembrar do quanto ele é bom. Esse é o meu caso com o álbum Salamandra, lançado em 1994, pela banda carioca Blues Etílicos. Logo na primeira música, Mateus Vai ao Circo, a banda mostra que não está para brincadeiras e desfila toda a versatilidade dos seus integrantes, além da grande sintonia entre eles. Em seguida vem a poderosa “Black Letter”, que não passa desapercebida para quem gosta de solos de guitarra cheios de swing pelo uso do slide e do pedal wah wah. E já que estamos falando de presença, na sequência temos a participação de Ed Motta, que, com sua voz multifacetada, apresenta-nos uma ótima versão do clássico People Get Ready da banda The Impressions. Outro ponto do álbum que vale ser destacado é o talento do gaitista Flávio Guimarães. Apesar de toda a sua versatilidade, Flávio reforça seu talento justamente na música que dá nome ao CD. Nela, a técnica apurada dá lugar a um solo carregado de inspiração, criando uma atmosfera vigorosa e contagiante. Até aqui tudo bem, tudo ótimo. Mas aí você, amante do blues, deve estar se perguntando onde diabos está “aquela batida”, ótima para as horas de bebedeira e de dor de cotovelo. É aí que entra “I Shouldn’t Cry For You”. Com um toque amargo, a música fala muito bem do vazio de uma relação mal resolvida. Depois, a jazzística Five and a Half e o rock “na medida” de Gamblers. Após mais alguns blues da melhor qualidade, chegamos ao fim de um álbum honesto e sem firulas. Um álbum que nos dá a ótima impressão de que ele foi gravado em um take só, numa tarde quente do verão carioca. E já que estamos falando de sol e que o blues é etílico, resta-nos pedir “mais uma dose, é claro que eu estou a fim”; como diriam seus conterrâneos Cazuza e Frejat.

Salamandra
Blues Etílicos

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

A Melhor Banda de Todos Os Tempos


Chama-se “lugar comum” toda expressão que, de tanto usada, já ficou batida e, portanto, é sem criatividade e insossa. O mundo da crítica musical, onde por teoria deveria ser diferente, é cheio de lugares comuns. Sendo assim, eu, que sou um apaixonado por música e não um nobel de literatura, resolvi escrever este artigo. Aviso logo que você está prestes a ler vários lugares comuns, para o bem geral da nação, é claro. Bom, é chover no molhado dizer que os Beatles foram a banda mais importante que já existiu. Isso já está mais do que provado. Além disso, temos de dar a César o que é de César e dizer que o álbum Abbey Road é a obra mais importante do Fab Four, apelido dos Beatles. Isso, porque nele estão contidos os melhores ingredientes da banda: seja o romantismo da música “Something”, seja a ironia de “Come Togheter” ou ainda o toque afrodisíaco de “I Want You”; além da bela e maliciosa “You Never Give Me Your Money”. Abbey Road, apesar de ter sido o penúltimo álbum a ser lançado, foi o último a ser gravado. Ou seja, o nascimento do álbum aconteceu bem no olho do furacão que levou um dia Lennon a dizer “the dream is over”. O interessante é que foram as forças negativas (muitas) e positivas (poucas) que colocaram Abbey Road como um marco na história da música mundial. Não importa como você irá ouvi-lo, LP ou MP3, o álbum foi feito para ser ouvido do começo ao fim, sem interrupção. Cada música se encaixa perfeitamente à próxima e, aos poucos, vai construindo uma atmosfera que só os Beatles tinham; num misto de melancolia e energia, regado por letras de duplo sentido, cujo destino não tinha outro senão cutucar pessoas que se colocassem na frente do Fab Four. Outro ponto que aqui não pode faltar é a misteriosa capa de Abbey Road. Dela surgiram milhões de lendas sobre vida e morte dos caras de Liverpool, numa especulação sem pé nem cabeça, mas que fez a cabeça de muitos fãs naquele tempo. Boatos, obviamente. Até porque o sósia de Paul não poderia ser tão bom a ponto de fazer trabalhos solos de ótima qualidade até hoje. Moral da história: para falar dos Beatles não dá para fugir dos lugares comuns. Muito já foi dito e até mesmo inventado sobre a banda. É por isso que, se eu tenho de escolher um lugar comum, escolho o estúdio Abbey Road, na rua homônima mais famosa do mundo. E me dou por feliz e satisfeito.